SAIA JUSTA
Saia Justa [2017]: o ensaio começa com um convite... fechar os olhos, ouvir o que nos cerca, os sons da vida, da natureza, olhar para dentro de si: nada nos separa. Deixar, no exercício de um momento apenas, a separatividade. Somos Um. Coloque-se no lugar dela. Delas: sua mãe, sua irmã, sua namorada, companheira, filha. Busque ela em si mesmo. Deixe seu feminino pulsar como o sangue vermelho de suas veias: Gaia - Terra mãe - Somos todos femininos.
Promover um mergulho para dentro, onde corpo, mente, espírito, ser vivo se integram, sem conceitos impostos pela sociedade, sem gêneros fixos. Podemos brincar, podemos nos liberar. No encalço de Pepeu Gomes: “Ser um homem feminino não afeta o meu lado masculino, se Deus é menina e menino eu sou masculino e feminino.”
O feminino está em toda parte. Precisamos reconhecê-lo, alimentá-lo, senti-lo, permiti-lo, liberá-lo, saudá-lo.
Aproximadamente 70 homens de diferentes contextos, lugares e nichos sociais aceitaram o convite de vestir saias. Isso, ainda que soe como inexpressivo, já denota uma mudança em curso. Quem sabe se com tão pequenino e delicado gesto, consigamos de algum modo roçar no machismo social e lhe causar umas belas cócegas, que seja? Precisamos nos repensar, mover estruturas rígidas e arcaicas, que já constatamos caducas.
Acreditamos ser essa a provocação do ensaio SAIA JUSTA: tocar no machismo sim - com delicadeza. Através do uso de uma saia, alguns homens se reconhecem em suas limitações. Um primeiro passo. Que cada um de nós se perceba e se reveja, o machismo é universal e não tem gênero, mas posturas, regras hierárquicas e contratos sociais.
O SAIA JUSTA não é sobre o machismo, nem como acabar com ele, é mais sobre trazer um olhar empático, uma reconexão, um reconhecimento com o feminino, com a intuição, com a cura do planeta terra, com o respeito pela diversidade das espécies, dos biomas, das pessoas.
Uma saia... membrana útero que abraça e agrega, rompendo por um instante o que foi perpetrado por tanto tempo, envolvendo-nos a todos como pétalas para dar a luz a uma nova geração.
(Texto: Paula Smith)
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