MACHO.cados
MACHO.cados [2022]: Em pleno século XXI, ainda vivemos tempos em que meninos e homens são criados para a força, coragem, combatividade, virilidade, dominação, em oposição à criação de meninas e mulheres como frágeis, amendrontadas, subjugadas, dominadas.
Em breve consulta a alguns dicionários, encontramos as seguintes definições:
- Masculinidade: qualidade de masculino ou de másculo.
- Másculo: relativo ao homem ou ao animal macho; que denota qualidades consideradas próprias do homem; viril, vigoroso.
- Macho: qualquer animal do sexo ou do gênero masculino, descrito ainda como forte, dominador, vigoroso, valente, corajoso, másculo, viril.
Há muito estudados por várias ciências, comportamentos e características atribuídas a homens e mulheres em sociedade e nas diversas culturas têm sido largamente analisadas como partes primordiais para a compreensão do funcionamento e regulação desses “papéis” criados socioculturalmente.
A busca de um ideal de masculino que se estabeleceu e se fortaleceu ao longo da história tem reiterado que, quanto mais o homem se afasta do universo feminino, “mais homem” ele será. É uma lógica binária simplista que, em termos práticos, inibe ou constrange o homem de usufruir ou desenvolver potenciais sensíveis e práticos que a sociedade estimulou nas mulheres, como, por exemplo, expressar tristezas, medos, sofrimentos, dificuldades, autocuidado, constrangendo-os à busca de suporte médico ou psicológico, trazendo prejuízos, inclusive, para a saúde mental e física dos homens.
Campos do conhecimento como a Antropologia e Sociologia trazem sólidas reflexões sobre o fato de que vivemos em uma sociedade machista e patriarcal, na qual os estereótipos de gênero reforçam a opressão, desigualdade e violência, e expressões “naturalizadas” na criação e construção do ser “macho” reforçam essa crença: “Homem não chora! Isso é coisa de menina!; Pare de frescura! Isso é coisa de florzinha!; Isso não é coisa de homem!; Haja como um homem!”.
Indo além, uma reflexão primordial sobre o machismo (ideologia que estrutura o pensamento social por meio da ideia de supremacia e dominação do macho e da virilidade) demonstra que ele se estende de tal forma, que é muito comum ouvir termos como “mulherzinha” ou “mocinha” em referência pejorativa a homens hétero ou homossexuais que se aproximem de estereótipos femininos, ou mesmo em sabidas situações de linchamento de pais e filhos vistos em abraços publicamente. Ou seja, o raciocínio implícito na homofobia contra homens se deve por questões oriundas do próprio machismo. Quando um homem foge às ditas "regras da masculinidade", já pode ser enquadrado como alvo de preconceito em uma sociedade machista.
Entendemos, então, mediante a consolidação e sobreposição desse modelo de masculinidade tóxica em nossa realidade social, que o tema deve ser ampla e criticamente discutido, inclusive entre homens, dado os prejuízos individuais e sociais causados pelo machismo, gerando, a partir disso, informação e conscientização para possíveis mudanças e quebras de paradigmas.
Tenho em vista tal contextualização, o projeto Macho.cados justifica-se pela imprescindibilidade e urgência da educativa discussão sobre a violência que sofrem a sociedade e os próprios homens dentro deste modelo tóxico de masculinidade, desvendando, por meio desta reflexão, outras possibilidades do “ser homem”.
Assim, Macho.cados tem por objetivo retratar, por meio da arte da fotografia, e dar voz, por meio dos depoimentos escritos dos 20 fotografados, a masculinidades vividas e pensadas por homens gays, homens pansexuais e homens transexuais, a fim de que possamos refletir, enquanto sociedade, sobre as estruturas que constroem e mantêm o machismo, tão fortemente danoso ao meio social. Busca-se, portanto, destacar assim, de forma reflexiva, positiva e construtiva, a vulnerabilidade “de ser” e a necessária desconstrução “para ser”.
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